terça-feira, 24 de março de 2015

Páscoa - "Mais Cordeiro, Menos Chocolate"


E disse-lhes: Tenho desejado ardentemente comer convosco esta páscoa, antes da minha paixão. Lucas 22:15.

Todos os anos grande parte do mundo comemora a páscoa e não é diferente no nosso país. Enxergamos com tristeza um distanciamento gradual do real sentido deste evento tão significativo para judeus e cristãos. Entendemos que os maiores vilões dessa contaminação é o casamento com o paganismo, o apelo ao consumismo e a ignorância Bíblica e Histórica.

A causa principal da miopia quanto à páscoa no mundo está dentro das igrejas cristãs. A mãe desta doença chamava-se império romano, mas a maior patrocinadora do erro (paganismo) foi a Igreja Católica Apostólica Romana, essas tradições pagãs milenares foram introduzidas oficialmente pela igreja de Roma, em 1215. Infelizmente algumas igrejas cristãs protestantes também introduziram em suas liturgias os rituais e valores pagãos, e, o mais triste, colocam esses costumes pagãos em igualdade aos valores litúrgicos bíblicos cristãos; tais ritos são introduzidos, disseminados e consumidos como se fossem por autoridade Bíblica. É necessária uma separação sincera entre o sagrado, o natural e o profano. A maioria dos consumidores da páscoa contemporânea a desconhece em sua origem, não distingue a sua real importância para a Nação de Israel e para Cristãos. É importante conhecer primeiro a sua origem como memorial e estatuto perpetuo para nação de Israel (Ex. 12:1-14), depois trazer para uma realidade superior encontrada na Pessoa de Jesus como Cordeiro Pascal.

Êxodo 12. 2-3, 6- 7, 11- 12 e 14: “2 Este mês vos será o principal dos meses; será o primeiro mês do ano. 3 Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês, cada um tomará para si um cordeiro, segundo a casa dos pais, um cordeiro para cada família. 6 E o guardareis até ao décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da congregação de Israel o imolará no crepúsculo da tarde. 7 Tomarão do sangue e o porão em ambas as ombreiras e na verga da porta, nas casas em que o comerem; 11 Desta maneira o comereis: lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão; comê-lo-eis à pressa; é a Páscoa* do SENHOR. 12 Porque, naquela noite, passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até aos animais; executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. 14 Eu sou o SENHOR. E este dia vos será por memória, e celebrá-lo-eis por festa ao SENHOR; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo”.

O livro de Êxodo, cap. 12, descreve com detalhe: a forma, a causa, o tempo, o efeito e a determinação da perpetuidade da comemoração pascal. Mas vale salientar que essa ordenança como descreve o “Êxodo” foi exclusivamente para nação de Israel, não existindo obrigatoriedade para o cristianismo, uma vez que, o objetivo bíblico “profético” como simbolismo já foi alcançado, pois apontava para Cristo, considerando que a páscoa está incluída entre os elementos e eventos do Antigo Testamento que representavam as sombras** que anunciavam Cristo como Messias prometido, o qual, tendo já  vindo, substituiu as sombras, tornando-se, Ele mesmo, Nossa Páscoa, isto é: Nossa Redenção. Vejam o que o Apóstolo Paulo declara: 1 Coríntios 5:7-8   Livrem-se do fermento velho, para que sejam massa nova e sem fermento, como realmente são. Pois Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi sacrificado.  Por isso, celebremos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da perversidade, mas com os pães sem fermento, os pães da sinceridade e da verdade”.

Em vez, portanto, de uma festa judaica, ou cristã pagã, nossa páscoa resume-se em uma Pessoa: “O SENHOR JESUS CRISTO. Da mesma forma que o Sangue do Cordeiro salvou os hebreus da destruição no Egito, O sangue de Jesus, o cordeiro pascal, salvou-nos da destruição e do poder do pecado e da morte eterna. A Páscoa judaica marcou o inicio (passagem) de uma nova história, de um recomeço para o povo de Israel, assim também o sacrifício de Jesus na cruz é o marco (a passagem) para o inicio de uma nova vida com Deus e isto em todos os sentidos. Como revelado, o propósito de Deus com o povo judeu não era apenas assentá-lo em uma terra (Canaã), para fazer dele uma nação próspera, mas através dele suscitar o Messias e abençoar todas as famílias da terra (Gn 12:1-3). Passados dois mil anos, João Batista se encontra com Jesus pela primeira vez, aponta em sua direção e faz uma declaração solene: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29). É na qualidade de cordeiro de Deus que Jesus celebra a Páscoa com seus discípulos e dá a ela outra dimensão e outro significado. Na verdade, resgata e cumpre o propósito original de Deus celebrado na primeira Aliança, feita com Abraão e sua descendência (Gn 12:1-3), (Mt 26:26-29) e (1Co 5.7). Sendo assim nos foi ordenado celebrar a Ceia do Senhor ( o Seu Sacrifício), até que Ele venha 1 Co 11:23-26.

Basta uma lida rápida sobre os elementos da páscoa tanto no A.T. como no N.T. para vermos que nada tem haver com os elementos propagados em nossos dias, aceitar essas contradições como Páscoa Bíblica é afrontar a Deus e desprezar o projeto original da salvação. Elementos da Páscoa:
  1. Cordeiro [Jesus] (sacrificado e assado para comer às pressas; e, o seu sangue aspergido nos umbrais das portas, hoje simbolizado pelo vinho da Ceia do Senhor, que por sua vez significa a nova aliança em Jesus);
  2. Pães Asmos [Corpo Cristo] (puro, sem mistura, sem contaminação, sem fermento, hoje simbolizado pelo pão da Ceia do Senhor);
  3. Ervas Amarga [Consciência da Escravidão] (Traz a memoria o tempo de angustia, de sofrimento, de servidão, hoje representado pela conscientização de que sem o sacrifício de Jesus Cristo não tínhamos como nos libertar, temos consciência da amargura e dor causada pela escravidão no pecado, Is. 53:4-5 “Mas ele foi traspassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados”. (Mt 26:26-30; Mc 14.22-26; 1 Co 11:23-25; Lc 22:19-20)
Diferenças entre a Páscoa judaica e a Ceia Cristã (Comunhão):
  1. A Páscoa judaica é uma celebração exclusiva entre Deus e um povo; A Comunhão Cristã é uma celebração disponível entre Deus e todos quantos aceitarem pela fé o sacrifício do cordeiro (Jesus).
  2. A Páscoa judaica é uma celebração em memória de uma libertação (passagem) política; a Comunhão Cristã é uma celebração em memória de uma libertação espiritual-integral, ou seja, em todas as dimensões que engloba o ser humano alcançado pelo sacrifício de Jesus, para reaproxima-lo a Deus. 
  3. A Páscoa judaica é uma celebração baseada no sangue de animais e outros elementos figurativos; a Comunhão cristã é uma celebração baseada em memoria ao Sacrifício de Jesus atrelada a confiança no poder do Sangue de Jesus.
  4. A Páscoa judaica é uma celebração que visa à constituição de um estado nação; a Comunhão cristã é uma celebração que visa a realidade eterna do reino de Deus, reino dos céus.
“Se a Páscoa de Israel foi a libertação de escravos políticos e econômicos para transformá-los em pessoas livres, aliados de Deus e possuidores de esperanças, a Páscoa em***  Jesus é a libertação da causa de todas as escravidões, a elevação de homens e mulheres à dignidade de filhos e filhas do pai celeste e herdeiros da vida eterna”. (Dom Luis Soares Oliveira, Folha de S.Paulo, 4 de abril de 2010, Caderno A3)

Segundo Augustus Nicodemus, existem três possíveis reações dos cristãos com relação à comemoração da páscoa, em nossa nação:

  1. Rejeitá-la completamente, por causa dos erros, equívocos, superstições e mercantilismo que contaminaram a ocasião;
  2. Aceitá-la normalmente como parte da cultura brasileira;
  3. Usar a ocasião para redimir o verdadeiro sentido da Páscoa.
 Fica muito claro que o terceiro é o mais razoável.

Logo, pode-se comer chocolate, comer peixe ou carne, mas não podemos atrelar esses elementos a páscoa bíblica e muito menos usá-los como símbolo da maior expressão de amor “O Sacrifício de Jesus”, nós quanto igreja não estamos preso à páscoa judaica e muito menos a tradição do paganismo católico, mas temos como por ordenança do Senhor a celebração da Ceia até que Ele volte (1 Co 11:23-25), necessitamos crer e aceitar como suficiente o sacrifício vicário ou expiatório de Jesus por nós. Então nos convertamos a Cristo, que é a nossa Páscoa, reconhecendo que seu sacrifício foi suficiente por si só, e disto não podemos esquecer, mas lembrar sempre e cultuarmos todos os dias de nossas vidas. Sendo assim comam mais de Jesus o cordeiro que tira o pecado do mundo.

Por: Adaias Marcos Ramos Da Silva.

*Páscoa no hebraico é pessach que significa passagem ou passar por cima: “... é a páscoa do Senhor" (Ex.12:11)”, “Porque o Senhor passará para ferir os egípcios...(Ex.12:23)”, “É o sacrifício da páscoa ao Senhor que passou por cima das casas dos filhos de Israel...(Ex.12:27)”.

**As Escrituras nos ensinam que algumas coisas do Antigo Testamento "são sombras das coisas futuras" (Cl 2:16-17), que algumas delas "servem de exemplo e sombra das coisas celestiais" (Hb 8:5), "foram-nos feitas em figura" (1 Co 10:6), e podem ser vistas como "figura do verdadeiro" (Hb 9:24).

***"em" – Substituição da preposição “de” para melhor compreensão.